Do desconfinamento para as oportunidades

Um conjunto de perspectivas sobre oportunidades futuras para Mortágua no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência apresentado pelo Governo para “ultrapassar a crise gerada pela pandemia e garantir o futuro”.
Para não se converterem em desperdício e atraso, as oportunidades implicam responsabilidades e competência.
Vamos precisar de gestão competente, planeamento, controlo, optimização de recursos e métodos em prol de objectivos estrategicamente pensados e concretizáveis (realistas, claramente descritos e definidos no tempo, e mensuráveis).

Profissionalizar, ser competente, ou então aceitar o desperdício e o atraso.
Esta é a escolha.

Do desconfinamento para as oportunidades

Depois de passados os três meses mais complicados da pandemia no nosso país, podemos hoje respirar um bocadinho mais de alívio embora sem nunca baixar a guarda.
Essa serenidade faz-nos começar a pensar na palavra Desconfinar. Não sabemos quando, nem como, mas é aquilo que se vai sentindo um pouco por toda a sociedade portuguesa.
Um desconfinamento que terá de ser assente em três pilares: prudência, vacinação e testagem. Se a prudência parece dominar o atual espirito do Governo e do Presidente da República, a testagem precisa de ser reforçada. Sabemos hoje que o número de testes caiu, mas devemos fazer um esforço para que seja uma das principais armas do desconfinamento, podendo o município ter também um papel importante nisso.
Com tantos precalços, críticas e avisos, podemos afirmar que a vacinação corre a um ritmo bastante razoável, dentro daquilo que é possível. Hoje meio milhão de portugueses já foi vacinado com pelo menos uma das doses da vacina.

E o desconfinamento faz-se hoje acompanhar do avistamento da “bazuca europeia”.

Depois de uma leitura das principais métricas e da análise de alguns dos comentadores de economia que foram divulgando as suas opiniões sobre a discussão pública do Plano de Recuperação e Resiliência é preciso entender que tipo de plano é este.
Este Plano será uma das bases (juntamente com o PT 2020 até 2023), para a recuperação económica que é no entender da União Europeia e do Governo assente na Resiliência, na Transformação Digital e na Transição Climática.

Sendo assim o governo propõe para o tema Resiliência, o reforço do Estado no Serviço Nacional de Saúde e em toda a Administração Pública com várias medidas, entre as quais o Município de Mortágua poderá ter alguma participação (se estas medidas não se transformarem apenas em chavões) como a Reorganização da Rede de Cuidados de Saúde Primários (que deve ser uma realidade, face ao volume de doentes não urgentes em urgências de hospitais centrais) e também na Rede de Cuidados Continuados (para responder à falta de camas de doentes com alta hospitalar mas sem condições para voltar para a sua habitação). Também neste tema Resiliência o Governo pretende dar uma forte componente a Respostas Sociais, Floresta e Gestão Hidrica. Tudo temas fortes do nosso municipio que esperemos se traduzam em investimento.

Quando passamos ao segundo e terceiro tema, estes são direccionados também ao papel do estado mas com uma componente maior relacionado com o investimento em empresas, na sua inovação e reindustrialização.
Assim precisamos de entender qual o papel do município neste quadro socio-económico e quais as oportunidades que o concelho não deve perder:

• Deve ser parceiro e incentivar as empresas à inovação e ao seu crescimento sustentado tendo em vista criar riqueza, ajudando ao requilibrio nacional da balança comercial. Poderá surgir aqui a oportunidade para a tão falada expansão do Parque Industrial com outro tipo de fundos europeus e possivelmente outro tipo de envergadura.
• Deve olhar para si próprio e aproveitar ao máximo para usar os fundos europeus na sua eficiencia energética, optando por materiais mais ecológicos e sustentáveis nos vários níveis das suas funções: desde a desmaterialização à opção por veículos elétricos, bem como o caminhar para uma maior eficiencia energética do edificios e aposta em energias renováveis.
• Deve projetar Mortágua a 10/20 anos a fim de entender o que, modificando hoje, terá um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas, na demografia do concelho, no emprego e no turismo
• Deve criar sinergias entre o comércio local, a restauração, o alojamento, os meios de divulgação turisticos e os agentes da cultura para perceber desde já que necessidades existem e como poderão gradualmente desconfinando. Estas sinergias necessitam de um olhar atento do municipio face à fragilidade do nosso comércio local, cujos apoios não existem neste plano e por isso, deve o municipio estudar que ações pode ter para ajudar a recuperar estes sectores económicos profundamente devastados pela crise.
• Deve aproveitar o quadro da transição digital para capacitar melhor os seus serviços, formando os quadros já existentes e eventualmente reforçar alguns sectores mais fragilizados. É ainda a oportunidade de ouro para tornar o municipio mais digital e mais aberto.
• Deve lutar em conjunto com a CIM, Associações de Municipios e outras entidades parceiras pela melhoria das condições de vida das pessoas do interior, inclusive nas vias de comunicação. Esta prioridade vai de encontro às principais linhas programáticas das vias de comunicação estarem destinadas aos metros das duas grandes áreas metropolitanas, o que mais uma vez revela que a aposta no interior é um chavão e não uma realidade.

Sendo ainda esta uma análise muito superficial, é uma oportunidade de ouro para reorganizarmos a nossa economia, o nosso sector social e sair da cauda da Europa na grande maioria dos indicadores economicos. É preciso que cada cidadão, empresa, município e Estado entenda o seu papel, traçando juntos metas sérias mas também ambiciosas para que tenhamos um futuro de maior prosperidade e esperança.

Não podemos deixar fugir esta oportunidade.

Mortágua, 16 de fevereiro de 2021

Daniel Matos